segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Filosofia clínica no Brasil: Uma nova reflexão


 Surgimento da Filosofia brasileira
A Filosofia clínica foi criada em fins da década de 1980, pelo psicanalista e filósofo Lúcio Packter, no Rio Grande do Sul (RS). Segundo Packter, a Filosofia clínica "direciona e elabora, a partir da metodologia filosófica, procedimentos de diagnose e tratamento endereçados a questões existenciais encontradas em hospitais, clínicas, escolas e ambulatórios. Técnicas que diferem dos métodos e fundamentos da Psicologia, da Psiquiatria e da Psicanálise: não existe o conceito de normalidade, de patologia; não existem concepções a priori como ‘o homem é um ser social’, ‘o homem busca a felicidade’. Tudo parte da historicidade da pessoa atendida, percorrendo-se desde o logicismo formal até a epistemologia nas questões focadas no diagnóstico dos problemas. A fundamentação das questões consta da Filosofia acadêmica, inteiramente, com seus escritos e autores. Está baseada no Logicismo, na Epistemologia, na Fenomenologia, na Historicidade, no Estruturalismo e na Analítica da Linguagem, entre outras abordagens".
Partindo da afirmação de Protágoras que afirma ser “o homem a medida de todas as coisas, ou seja, cada um vê e interpreta o mundo de uma forma,  a partir de sua historicidade, ou seja, sua história de vida, a Filosofia Clínica considera a subjetividade de cada indivíduo, como ponto de partida de suas reflexões,
Cada indivíduo é singular e único e não pode ser colocado em uma forma ou ser simplesmente rotulado como uma embalagem de algum produto, Como afirma Edgar Morran filósofo contemporâneo, cada um é singular e subjetivo, para tanto se faz necessário entendermos a estrutura do pensamento de cada indivíduo.
Resumidamente a Filosofia Clínica é assim definida, por Lúcio Packter, o pioneiro e sistematizador desta abordagem filosófica no Brasil:
a) O uso do conhecimento filosófico à psicoterapia.
b) A atividade filosófica aplicada à terapia do indivíduo.
c) As teorias filosóficas empregadas às possibilidades do ser humano enquanto se realiza por si mesmo.
Pode-se dizer que é a filosofia acadêmica aplicada à psicoterapia. Nesta prática haverá um interseção entre o filósofo clínico e o partilhante (não necessariamente). Cabe ao filósofo categorizar o que o partilhante lhe traz, a sua historicidade (para tanto existem 5 categorias que permitem a abstração da condição existencial em que o mesmo se encontra). Feito isso, é traçada uma estrutura de pensamento do partilhante, dividida em 30 tópicos, que indicará os choques estruturais que levaram a pessoa a procurar pela terapia.
Cabe ressaltar que em filosofia clínica os conceitos de doença e patologia deixam de existir, havendo, então, representações de mundo que originam maneiras singulares de existência. Em decorrência disso, fica explícito que a filosofia clínica não promove curas, mas auxilia na tentativa de resolução de choques estruturais que causam um mal-estar existencial à pessoa.

Exames Categoriais
Diz respeito à localização existencial da pessoa (partilhante)
Explorando as cinco categorias (Assunto, Circunstância, Lugar, Tempo e Relação), o filósofo forma um conceito bem estruturado do mundo da outra pessoa: uma representação para si mesmo da representação do outro.

Assunto
Sobre a categoria Assunto: O assunto(que chamamos imediato ou último)é aquilo que leva o partilhante à clínica, ou seja, a causa, o motivo, a questão que faz com que a pessoa procure o atendimento filosófico clínico.

Circunstância
Sobre a categoria Circunstância: Diz respeito à situação, o estado em que a pessoa(partilhante) se encontra, quando este, chega à clínica com uma demanda. É o mesmo que dizer: o todo do partilhante, ou seja, é o seu entorno.

Lugar
Sobre a categoria Lugar: Diz respeito a como a pessoa (partilhante)se movimenta sensorialmente e abstratamente no espaço geográfico que ocupa.

Tempo
Sobre a categoria Tempo: Diz respeito à como a pessoa (partilhante) lida com o tempo(cronológico, aquele do relógio) e o tempo(subjetivo, aquele vivido pela pessoa).Aqui, levamos em consideração como a pessoa vive o tempo, se no futuro, se no passado, ou se há uma mescla desse tempo e quais problemas existenciais pode existir para essa pessoa em relação à como a mesma vive essa categoria na sua vida.

Relação
Sobre a categoria Relação: Diz respeito a relação da pessoa(partilhante) com o que,com quem,se com ela mesma, e a qualidade dessa relação.

            Estrutura do pensamento
Após explorar e conhecer essas  cinco categorias e formado  um conceito representativo do outro , o filósofo clínico começa a montar e entender a Estrutura do pensamento de seu partilhante.
Estrutura do pensamento segundo Margarida Nicheli Paulo é tudo o que o indivíduo conhece, sente, intui, ou seja, é a pessoa na sua totalidade.
Analogicamente  a Estrutura do pensamento poderia ser comparada com uma coluna vertebral na qual cada vértebra responsável por  sustentar o corpo,  seria  como um tópico que mostra o que essa pessoa é. Assim como essa coluna vai se modificando ao longo da vida de acordo com o tamanho da estrutura do indivíduo, a estrutura do pensamento também, mesmo que alguns tópicos sejam rígidos como veremos em alguns indivíduos, a estrutura do pensamento não é algo rígido, mas assim como a coluna também é flexível e vai se modificando com  o passar dos anos. Outra. 
Assim como  uma coluna vertebral quebrada causa desconforto e mal estar para todo o corpo, também um tópico problematizado poderá afetar toda a estrutura do pensamento compromentendo-a.
Cabe ao filósofo clínico tentar aliviar, ou ajudar a aliviar as dores e problemas dos tópicos estruturais do individuo, assim como um especialista em problemas vertebrais vai ajudar o paciente. Portanto o filósofo clínico deve ter a responsabilidade de um cirurgião, a mesma perícia o mesmo cuidado.
Porém enquanto na medicina, o profissional lhe dá sobretudo com a fisiologia humana, na filosofia clínica o especialista se depara com mente humana, sentimentos, ações, vaidades, orgulhos, valores, emoções, o que é muito mais complexo e delicado, ou tanto quanto o corpo humano.
Daí a importância de se conhecer bem a estrutura do pensamento do partilhante para não cometer equívocos e erros que podem em muitos casos ser irreversível, assim como a imperícia de um bisturi médico.
A partir da estrutura do pensamento existem uma série de procedimentos e análises que o filósofo clínico necessita fazer, a partir de seus estudos conceituais. 

fonte: http://ideiasefilosofia.blogspot.com.br/2010/03/filosofia-clinica.html