Surgimento da Filosofia brasileira
A Filosofia
clínica foi criada em fins da década de 1980, pelo psicanalista e filósofo Lúcio
Packter, no Rio Grande do Sul (RS). Segundo Packter, a Filosofia clínica
"direciona e elabora, a partir da metodologia filosófica, procedimentos de
diagnose e tratamento endereçados a questões existenciais encontradas em
hospitais, clínicas, escolas e ambulatórios. Técnicas que diferem dos métodos e
fundamentos da Psicologia, da Psiquiatria e da Psicanálise: não existe o
conceito de normalidade, de patologia; não existem concepções a priori como ‘o
homem é um ser social’, ‘o homem busca a felicidade’. Tudo parte da
historicidade da pessoa atendida, percorrendo-se desde o logicismo formal até a
epistemologia nas questões focadas no diagnóstico dos problemas. A
fundamentação das questões consta da Filosofia acadêmica, inteiramente, com
seus escritos e autores. Está baseada no Logicismo, na Epistemologia, na
Fenomenologia, na Historicidade, no Estruturalismo e na Analítica da Linguagem,
entre outras abordagens".
Partindo da
afirmação de Protágoras que afirma ser “o homem a medida de todas as coisas, ou
seja, cada um vê e interpreta o mundo de uma forma, a partir de sua historicidade, ou seja, sua
história de vida, a Filosofia Clínica considera a subjetividade de cada
indivíduo, como ponto de partida de suas reflexões,
Cada indivíduo é
singular e único e não pode ser colocado em uma forma ou ser simplesmente
rotulado como uma embalagem de algum produto, Como afirma Edgar Morran filósofo
contemporâneo, cada um é singular e subjetivo, para tanto se faz necessário
entendermos a estrutura do pensamento de cada indivíduo.
Resumidamente a
Filosofia Clínica é assim definida, por Lúcio Packter, o pioneiro e
sistematizador desta abordagem filosófica no Brasil:
a) O uso do
conhecimento filosófico à psicoterapia.
b) A atividade
filosófica aplicada à terapia do indivíduo.
c) As teorias
filosóficas empregadas às possibilidades do ser humano enquanto se realiza por
si mesmo.
Pode-se dizer
que é a filosofia acadêmica aplicada à psicoterapia. Nesta prática haverá um
interseção entre o filósofo clínico e o partilhante (não necessariamente). Cabe
ao filósofo categorizar o que o partilhante lhe traz, a sua historicidade (para
tanto existem 5 categorias que permitem a abstração da condição existencial em
que o mesmo se encontra). Feito isso, é traçada uma estrutura de pensamento do
partilhante, dividida em 30 tópicos, que indicará os choques estruturais que
levaram a pessoa a procurar pela terapia.
Cabe ressaltar
que em filosofia clínica os conceitos de doença e patologia deixam de existir,
havendo, então, representações de mundo que originam maneiras singulares de
existência. Em decorrência disso, fica explícito que a filosofia clínica não
promove curas, mas auxilia na tentativa de resolução de choques estruturais que
causam um mal-estar existencial à pessoa.
Exames Categoriais
Diz respeito à
localização existencial da pessoa (partilhante)
Explorando as
cinco categorias (Assunto, Circunstância, Lugar, Tempo e Relação), o filósofo
forma um conceito bem estruturado do mundo da outra pessoa: uma representação
para si mesmo da representação do outro.
Assunto
Sobre a
categoria Assunto: O assunto(que chamamos imediato ou último)é aquilo que leva
o partilhante à clínica, ou seja, a causa, o motivo, a questão que faz com que
a pessoa procure o atendimento filosófico clínico.
Circunstância
Sobre a
categoria Circunstância: Diz respeito à situação, o estado em que a
pessoa(partilhante) se encontra, quando este, chega à clínica com uma demanda.
É o mesmo que dizer: o todo do partilhante, ou seja, é o seu entorno.
Lugar
Sobre a
categoria Lugar: Diz respeito a como a pessoa (partilhante)se movimenta
sensorialmente e abstratamente no espaço geográfico que ocupa.
Tempo
Sobre a
categoria Tempo: Diz respeito à como a pessoa (partilhante) lida com o
tempo(cronológico, aquele do relógio) e o tempo(subjetivo, aquele vivido pela
pessoa).Aqui, levamos em consideração como a pessoa vive o tempo, se no futuro,
se no passado, ou se há uma mescla desse tempo e quais problemas existenciais
pode existir para essa pessoa em relação à como a mesma vive essa categoria na
sua vida.
Relação
Sobre a
categoria Relação: Diz respeito a relação da pessoa(partilhante) com o que,com
quem,se com ela mesma, e a qualidade dessa relação.
Estrutura
do pensamento
Após explorar e
conhecer essas cinco categorias e
formado um conceito representativo do
outro , o filósofo clínico começa a montar e entender a Estrutura do pensamento
de seu partilhante.
Estrutura do
pensamento segundo Margarida Nicheli Paulo é tudo o que o indivíduo conhece,
sente, intui, ou seja, é a pessoa na sua totalidade.
Analogicamente a Estrutura do pensamento poderia ser
comparada com uma coluna vertebral na qual cada vértebra responsável por sustentar o corpo, seria
como um tópico que mostra o que essa pessoa é. Assim como essa coluna
vai se modificando ao longo da vida de acordo com o tamanho da estrutura do
indivíduo, a estrutura do pensamento também, mesmo que alguns tópicos sejam
rígidos como veremos em alguns indivíduos, a estrutura do pensamento não é algo
rígido, mas assim como a coluna também é flexível e vai se modificando com o passar dos anos. Outra.
Assim como uma coluna vertebral quebrada causa
desconforto e mal estar para todo o corpo, também um tópico problematizado
poderá afetar toda a estrutura do pensamento compromentendo-a.
Cabe ao filósofo
clínico tentar aliviar, ou ajudar a aliviar as dores e problemas dos tópicos
estruturais do individuo, assim como um especialista em problemas vertebrais
vai ajudar o paciente. Portanto o filósofo clínico deve ter a responsabilidade
de um cirurgião, a mesma perícia o mesmo cuidado.
Porém enquanto
na medicina, o profissional lhe dá sobretudo com a fisiologia humana, na
filosofia clínica o especialista se depara com mente humana, sentimentos,
ações, vaidades, orgulhos, valores, emoções, o que é muito mais complexo e
delicado, ou tanto quanto o corpo humano.
Daí a
importância de se conhecer bem a estrutura do pensamento do partilhante para
não cometer equívocos e erros que podem em muitos casos ser irreversível, assim
como a imperícia de um bisturi médico.
A partir da
estrutura do pensamento existem uma série de procedimentos e análises que o
filósofo clínico necessita fazer, a partir de seus estudos conceituais.
fonte: http://ideiasefilosofia.blogspot.com.br/2010/03/filosofia-clinica.html